♦ "Minha cota de artigos"
"Eu escrevi minha cota de artigos", declarou um colega que subiu para as cadeiras administrativas da academia no final da d�cada de 1970. Sendo um professor assistente na �poca, percebi que ainda n�o tinha. Assim, nas tr�s d�cadas seguintes, dediquei-me � publica��o acad�mica, sempre atento ao ditado "Publique ou pere�a". Meu primeiro artigo foi publicado em 1977 e meu �ltimo no ano de 2003.
Naqueles dias, publicar em um jornal cient�fico ou profissional n�o era para os fracos. Primeiro, porque isso demorava um pouco, geralmente entre um a dois anos, para o manuscrito percorrer o processo de revis�o por pareceristas. A revis�o pelos pares era necess�ria para garantir que o trabalho fosse relevante, preciso e devidamente fundamentado. O objetivo do sistema era identificar os erros antes da publica��o. Erros em trabalhos publicados n�o s� poderiam ser enganosos, mas tamb�m poderiam questionar a reputa��o profissional do autor. Al�m disso, seria imposs�vel recuperar ou corrigir quaisquer erros ap�s o per�odo habitual de seis meses para discuss�o e finalizaç�o. O sistema parecia funcionar bem por quase um s�culo, at� que a tecnologia conseguiu colocar uma chave inglesa no processo.
♦ Publicaç�es online Entra a internet, c. 1994. A internet revolucionou e continua a revolucionar a sociedade e os neg�cios. Com a internet onipresente, a publica��o online se tornou comum. N�o � mais estritamente necess�rio que um autor potencial se submeta ao rigoroso processo de revis�o por pares para publicar. Nos �ltimos anos, a auto-publica��o tornou-se o padr�o de fato, como qualquer pessoa que usa a web frequentemente pode assegurar.
A tend�ncia da auto-publica��o, em v�rias formas, j� est� a�. Em agosto de 2010, a Sociedade Ecol�gica da Am�rica lan�ou um novo peri�dico, chamado Ecosphere. Esta revista fornece uma publica��o r�pida, apenas online, aberta a todos, alternativa aos peri�dicos existentes da Sociedade, e expande a amplitude e profundidade dos trabalhos para cobrir pesquisa colaborativa, mesclando ecologia com economia, hist�ria, filosofia, educa��o, pol�tica, entre outros ramos do conhecimento. Consideravelmente, as decis�es das submiss�es s�o feitas dentro de quatro a seis semanas, e os artigos s�o publicados em quest�o de dias ap�s a decis�o. Al�m disso, os artigos n�o s�o editados, e os autores assumem essa responsabilidade. ♦ Uma faca de dois gumes A poeira ainda n�o abaixou com rela��o � publica��o online. Por enquanto, reconhecemos que a auto-publica��o online � uma faca de dois gumes. O material pode n�o ter sido adequadamente revisado por pares; portanto, sua qualidade n�o � garantida. No entanto, a auto-publica��o online tem uma vantagem inerente, muito poderosa, inexistente no sistema antigo. Ao contr�rio das publica��es tradicionais de peri�dicos, que s�o permanentes e sujeitas ao arquivamento, a auto-publica��o online � impermanente, n�o prontamente pass�vel ao arquivamento convencional. Superficialmente, isso parece ser uma desvantagem e levar� algumas pessoas a descartar o poder da publica��o online como passageiro. No entanto, uma an�lise atenta das quest�es aponta para outro lugar. Observamos que a pr�pria imperman�ncia da publica��o online � um ativo, e n�o um passivo. Com a auto-publica��o online, n�o � preciso ser extremamente cuidadoso [dentro do razo�vel] ou passar muito tempo verificando o material por meio de revis�o por pares ou por outros meios, porque � poss�vel corrigir e atualizar o material, quando alertado por outros sobre erros ou omiss�es [e a natureza humana ir� garantir que isso sempre aconte�a]. Assim, documentos online s�o obrigados a melhorar com o tempo, como um bom vinho.
♦ A era da imperman�ncia A nova experi�ncia de publica��o online elimina o problema da perman�ncia de erros e omiss�es. A partir de agora, as coisas podem ser consertadas e, assim, as publica��es online podem ganhar vida pr�pria. Tecnicamente, elas nunca terminam; elas sempre podem ser aprimoradas, complementadas ou vistas em uma perspectiva sempre em evolu��o. Assim, elas s�o verdadeiramente din�micas, alguns podem dizer "vivas", uma caracter�stica que n�o poderia ser atribu�da aos antigos peri�dicos impressos arquivados nas bibliotecas.
1 Ponce, V. M., and D. B. Simons. (1977). Shallow wave propagation in open-channel flow. Journal of the Hydraulics Division, American Society of Civil Engineers, Vol. 103, No. HY2, December. 2 Ponce, V. M., A. T. Shamsi, and A. V. Shetty. (2003). Dam-breach flood wave propagation using dimensionless parameters. Journal of Hydraulic Engineering, American Society of Civil Engineers, Vol. 129, No. 10, October. 3 Machiavelli, N. (1970). The Discourses: Book III, Discourse 37. Penguin Books (First released in the Italian original in 1531). |
200311 |