11.1 ONDAS SUPERFICIAIS
As ondas superficiais são recursos de fluxo de canal aberto instáveis que ocorrem normalmente nos fluxos com alto número de Froude. A Figura 11-1 mostra uma onda de superfície no rio Hassayampa, perto de Morristown, Arizona (Phillips e Ingersoll, 1998). A perturbação é uma onda que se propaga lentamente à jusante e que indica as características hidráulicas em canais aluviais em condições de fluxo de regime super crítico (Fig. 11-2) (Simons e Richardson, 1966).
A Figura 11-3 mostra o rio Santa Catarina, em Monterrey, Nuevo Leon, México, durante a passagem do furacão Gilbert, em 17 de setembro de 1988. As grandes ondas superficiais observadas são uma indicação dos altos fluxos de número de Froude que provavelmente prevaleceram durante a passagem do dilúvio.
11.2 ONDULAÇÕES ACENTUADAS
As ondulações acentuadas são perturbações criadas por fechamentos repentinos de comportas ou mudanças rápidas no estágio (nível d'água) ou profundidade do fluxo. Normalmente, uma onda não atenua prontamente, viajando ao longo do canal por uma distância considerável. As ondulações acentuadas são evitadas abrindo as comportas lentamente, para minimizar a possibilidade de mudanças bruscas de estágio ou profundidade. A atenuação da onda aumenta à medida que o número de onda adimensional diminui do correspondente para uma onda dinâmica verdadeira (com celeridade constante, ou seja, para o lado direito do espectro do número de onda), para o correspondente a uma onda dinâmica mista (com celeridade variável, ou seja, ao longo da parte superior lado descendente da curva S) (Fig. 11-4).
Com base no critério acima, uma primeira aproximação para o momento da abertura To de uma porta do canal, para evitar picos de tensão, é (Ponce et al., 1999):
Em que: uo = velocidade de fluxo;
11.3 CHOQUES CINEMÁTICOS
Os choques cinemáticos são ondas cinemáticas que se abrem ao ponto de se tornarem, para todos os efeitos práticos, uma parede de água, com uma face quase vertical. Na verdade, o choque não é uma descontinuidade perfeita. No entanto, sua espessura é relativamente pequena em comparação ao comprimento de onda da perturbação (Lighthill e Whitham, 1955). As ondas cinemáticas viajam à jusante e podem se inclinar ou achatar, dependendo de sua interação com a geometria da seção transversal. Somente ondas cinemáticas que se inclinam podem se transformar em choques cinemáticos. Enquanto as ondas cinemáticas variam gradualmente, os choques cinemáticos variam rapidamente.
O desenvolvimento de um choque cinemático está em função das seguintes condições de fluxo (Ponce e Windingland, 1985):
Assim, choques cinemáticos se desenvolverão em situações de campo envolvendo: (a) uma onda cinemática, (b) um canal efêmero (fluxo básico zero), (c) uma alta vazão (uma inundação) e (d) um canal hidraulicamente amplo. Pode ser o caso de uma grande explosão de nuvem que concentra rapidamente o fluxo através de um canyon em uma região semiárida. Uma inundação repentina e bem documentada, que provavelmente foi um choque cinemático, ocorreu em 26 de julho de 1981 no riacho Tanque Verde, um afluente do rio Santa Cruz, no leste do Arizona, EUA. A inundação, que matou oito pessoas, foi, segundo todos os relatos, apenas uma inundação com período de retorno de dois anos. No entanto, a súbita inundação que, segundo relatos dos sobreviventes, atingiu uma "parede d'água", resultou em um número substancial de perda de vidas (Hjalmarson, 1984). Choques cinemáticos foram observados com certa frequência em cálculos de transbordamento laboratoriais. Sabe-se que esses cálculos são propícios ao desenvolvimento de choque cinemático (Kibler e Woolhiser, 1970). A presença de choque é atribuída à regularidade espacial prescrita, que é necessária para possibilitar o tratamento do problema. 11.4 ONDAS DE ROLO
As ondas de rolo se desenvolvem nos escoamentos abertos quando o número Vedernikov V > 1 (Craya, 1952; Chow, 1959). Nos canais naturais, a condição V > 1 raramente é cumprida (Jarrett, 1982). Assim, as ondas de rolo são restritas a canais artificiais revestidos com concreto ou alvenaria. Normalmente, as ondas de rolo aparecem como um trem de ondas que se move à jusante, como mostrado na Fig. 1-7 (Capítulo 1). O Vedernikov é definido como a razão entre a celeridade relativa das ondas cinemáticas e a celeridade dinâmica relativa das ondas (Ponce, 1991):
Em que: β = expoente da curva-chave (Eq. 10-52);
A ondas de rolo ocorrem quando a celeridade relativa da onda cinemática excede a celeridade relativa da onda dinâmica. Como as ondas cinemáticas transportam massa e as ondas dinâmicas (verdadeiras) transportam energia, as ondas rolantes ocorrem no limiar em que a massa e a energia são transportadas na mesma velocidade. Na prática, ondas de rolagem ocorrem em canais artificiais íngremes quando o número Vedernikov V > 1 (Fig. 11-5).
A condição
Um exemplo curioso e um tanto extremo de ondas de rolagem em um canal urbano íngreme é visto neste vídeo de um evento no rio Huayñajahuira, La Paz, Bolívia, em 25 de fevereiro de 2016, às 17:30.
11.5 ONDAS DE MARÉ
As pororocas são características de fluxo de superfície livre instáveis, rapidamente variadas, que ocorrem em certos rios nas proximidades de seus estuários. As ondas de maré ocorrem em um estuário para uma grande faixa de marés ou próximos a qualquer um dos equinócios (20 de março e 22 de setembro). Se a onda de maré é capaz de se mover à montante do rio propriamente dita e se transformar em um poço reconhecível de profundidade finita, depende em grande parte da geometria da seção transversal do estuário. As pororocas têm mais probabilidade de se formar em canais suaves e hidraulicamente amplos, de profundidade relativamente constante.
Grandes pororocas foram observadas no rio Araguari, no Brasil (Fig. 11-7), no rio Chien Tang, na China (Fig. 11-8) e em outros estuários selecionados ao redor do mundo. Chow (1959) descreveu o furo de Hangchow em Haining, no rio Chien Tang, na China. A frente de onda tinha cerca de 16 pés de altura, viajando em alta velocidade. Sete milhas depois de distinguir-se pela primeira vez no horizonte, a onda havia passado. A água atingiu uma altura final de cerca de 28 pés em 30 minutos. A largura do rio no ponto de observação era de cerca de 1 milha.
11.6 ESCOAMENTO DE DETRITOS
Os escoamentos de detritos são acúmulos repentinos de escoamento contendo grandes quantidades de partículas de sedimentos, geralmente no tamanho de pedregulhos ou ainda maior. O Escoamento de Detritos viaja rio abaixo a grandes velocidades, destruindo tudo em seu caminho e ameaçando vidas e propriedades (Fig. 11-9).
O escoamento de detritos é induzido por chuvas intensas, mas também pode ser desencadeado por terremotos. No sul da Califórnia, ao longo da base das montanhas de San Gabriel, a leste de Los Angeles, os fluxos de detritos induzidos pela chuva ocorrem com regularidade previsível. Os fatores que levam à formação desses fluxos de detritos são:
As encostas íngremes cobertas por vegetação chaparral, seguidas por uma sequência de vento, fogo e chuva, desencadeiam o fluxo de detritos na região sul da Califórnia. Durante o incêndio, as substâncias semelhantes à cera evaporam na superfície e recondensam-se a uma profundidade de 10 a 50 mm da superfície, abaixo da qual o solo não é molhável, ou seja, é hidrofóbico. O acúmulo de chuvas intensas, superiores a 25 mm por hora, imediatamente abaixo da superfície e acima da camada não molhável, leva ao arrastamento de grandes quantidades de sedimentos que constituem os fluxos de detritos. Um fluxo típico de detritos induzidos pela chuva no sul da Califórnia pode levar de 10 a 50 mm de solo em poucas horas. A título de comparação, as taxas normais de erosão são tipicamente inferiores a 1 mm por ano. Escorregamentos provocadas por terremotos Fluxos maciços de detritos também podem ser desencadeados por terremotos. Esse foi o caso do escorregamento de Huascaran em 30 de maio de 1970, no Peru, que enterrou a cidade de Yungay, matando mais de 20.000 pessoas (Fig. 11-13). Desde então, a cidade foi reconstruída em um local ao norte da antiga municipalidade.
11.7 LAHARES
Os lahares são fluxos de detritos desencadeados pelo derretimento da neve, após uma erupção vulcânica e subsequente derretimento repentino da calota da neve. A palavra lahar se originou na Indonésia, onde o fenômeno é comum. Os lahares têm consistência, viscosidade e aproximadamente a mesma densidade que o concreto, sendo fluido quando em movimento e sólido quando parado (Fig. 11-14).
O lahar pode ser maciço e mortal, como mostra a erupção do vulcão Nevado del Ruiz, em 13 de novembro de 1985, na Colômbia. Quatro lahares desceram os vales dos rios nos flancos do vulcão. O maior deles praticamente destruiu a cidade de Armero, enterrando-a sob 5 m de lama e detritos, matando mais de 75% de seus 28.700 habitantes (Fig. 11-15).
QUESTÕES
PROBLEMAS
REFERÊNCIAS
Brock, R. R. 1967. Development of roll waves in open channels. Report No. KH-R-16, W. M. Keck Laboratory of Hydraulics e Water Resources, California Institute of Technology, Pasadena, California, Chow, V. T. 1959. Open-channel Hydraulics. McGraw Hill, New York. Cornish, V. 1907. Progressive waves in rivers. The Geographical Journal. Vol. 29, No. 1, January, 23-31. Craya, A. 1952. The criterion for the possibility of roll-wave formation. Gravity Waves, Circular No. 521, National Bureau of Standards, Washington, D.C. 141-151. Hjalmarson, H. W. 1984. Flash flood in Tanque Verde Creek, Tucson, Arizona. Journal of Hydraulic Engineering, Vol. 110, No. 12, 1841-1852. Jarrett, R. D. 1984. Hydraulics of high-gradient streams. Journal of Hydraulic Engineering, Vol. 110, No. 11, 1519-1539. Kibler, D. F., e D. A. Woolhiser. 1970. The kinematic cascade as a hydrologic model. Hydrology Paper No. 39, Colorado State University, Ft. Collins, Colorado. Lighthill, M. J., e G. B. Whitham. 1955. On kinematic waves: I. Flood movement in long rivers. Proceedings, Royal Society of London, Series A, 229, 281-316. McPhee, J. 1989. The Control of Nature. Farrar Straus Giroux, New York. Ponce, V, M., e D. Windingland. 1985. Kinematic shock: Sensitivity analysis. Journal of Hydraulic Engineering, ASCE, Vol. 111, No. 4, April, 600-611. Ponce, V. M. 1991. New perspective on the Vedernikov number. Water Resources Research, Vol. 27, No. 7, 1777-1779, July. Ponce, V, M., e M. P. Maisner. 1993. Verification of theory of roll wave formation. Journal of Hydraulic Engineering, ASCE, Vol. 119, No. 6, June, 768-773. Ponce, V, M., Y. R. S.Rao, e N. M. Mansury. 1999. Time of opening of irrigation canal gates. Journal of Hydraulic Engineering, ASCE, Vol. 125, No. 9, September, 979-980. Phillips, J. V., e T. L. Ingersoll. 1998. Verification of roughness coefficients for selected natural e constructed stream channels in Arizona. U.S. Geological Survey Professional Paper 1584, Washington, D.C. Simons, D. B., e E. V. Richardson. 1966. Resistance to flow in alluvial channels. U.S. Geological Survey Professional Paper 422-J, Washington, D.C.
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